No trabalho tem uma copa, e, na copa, uma copeira. Dona Fátima é o nome dela. Sempre tem um sorriso, um café e uma noção de realidade que comparo à caramelo quente: doce e que não passa imune por você. Ela observa tudo, fala o necessário, mas sempre de forma incisiva; tem mãos mágicas para acarinhar com uma tapioca, um cuscuz ou mesmo um bolo de queijo (quando a coisa está ruim, não falta o café e o chá, normalmente de canela). Ela não tem obrigação de fazer isso, nem de nos receber como se chegássemos à sala de uma tia atenciosa, mas sabe que muitos professores não tem família na cidade, passam o dia na universidade, se estressam em sala e... lá vem ela com suas doçuras!
"Não vá antes de uma fatia de bolo!"Num mundo em que as pessoas fazem, quando muito, suas obrigações, Dona Fátima, em sua simplicidade, entende que todos precisamos de relações mais humanas. E ela se preocupa com cada problema (não acredito que seja só com os meus, embora sua atenção seja especial para mim).
"E aí, mulher, já conseguiu a sua casa? Ah, que bom..."
"Esse é problemático, não ajuda na coleta da copa... mas não posso deixar ele... ele é muito sozinho..."
"Mulher, não dê muita atenção, que esse aí é abusado!"
"Professor, volte daqui a um pouquinho que já vou fazer um cuscuz que sei que o senhor gosta!"
"E como está aquela criança bonita, filha daquela mulher?"E assim vai... Em pequenas doses, temperando nossos dias. Nos alimentando de ansiedade por vir trabalhar e saber qual delícia vamos encontrar...
Interessante que ela me chama de "mulher", é o jeito dela simples, que nos reduz à condição mínima. Aqui, no território da Dona Fátima, as pessoas são o que são, e eu não sou nada além de uma mulher que ela trata com quitutes e carinho. Para mim, Dona Fátima é um anjo que ensina simplicidade todo dia.