Há muito tempo tenho buscado uma imagem de São Tomé,
padroeiro dos arquitetos. O estereótipo daquele que precisa ver para crer já me
representava em boa medida. A Lei de Murphy domina minha vida e preciso me
cercar de certezas e, mesmo assim, muitas vezes, a vida me dá rasteiras. Não foram
poucas nem pequenas. Mas Tomé foi o responsável por dois momentos fundamentais
na consolidação do cristianismo, que temos referência na Bíblia: quando ele
questiona a Jesus o caminho a seguir e a icônica incredulidade, o que sinalizou
para a transcendência da fé, para além de fatos e materialidades.
Os atributos de São Tomé são o esquadro e a lança: com o
primeiro ele, com sua retidão, construiu novas bases para o cristianismo no
oriente, sendo importante na consolidação da fé cristã na Índia; com o segundo
ele foi morto. Em torno de 500 anos depois de Cristo, o imperador Constantino se
converte ao cristianismo e os cristãos, que viviam de forma clandestina no
Império Romano do Ocidente, passam a ter apoio e saem ao sol. Essa é a Igreja
que terá Pedro como pedra de sustentação, aquela que necessita de fundamentação
estrutural para existir. A de Tomé já havia se consolidado no Império Romano do
Oriente e manteve-se viva no Império Bizantino. Enfim, um apóstolo de coragem,
que perguntou o que todos queriam falar, que foi na contra-mão, levando a fé
até as últimas conseqüências.
Não encontro uma imagem de São Tomé! Aliás, encontrei uma, a
representação de um apóstolo, sem nenhum atributo, escrito na peanha “São Thome”.
O que é um homem sem sua história, sem trazer a sua bagagem de referências que
o fazem diferentes dos demais? Não, aquele não era o meu São Tomé! Aliás,
pensava em fazer o meu próprio santinho quando vi uma imagem, uma medalha, cuja
vendedora denominava de “São José Trabalhador”. Acho injustas determinadas
denominações – essa especialmente – que podem provocar leituras equivocadas.
São José, trabalhador sempre, portanto não precisa ter esse aposto. Muito menos
a invenção de um arquiteto de Belém que resolveu criar um “São José Liberto”,
como se em algum momento ele tivesse sido escravo, preso ou limitado por
qualquer motivo. Bem, retornando à medalha, a imagem trazia um esquadro na mão:
sim, era o São Tomé! Era o meu São Tomé!
Em Bujaru, durante uma pesquisa, uma imagem foi identificada
em seus atributos como Santa Bárbara, embora toda a comunidade rezasse ao pé de
seu nicho como Nossa Senhora do Carmo. Quem está errando? Na dúvida, minha
opção é sempre aquilo que transcende a matéria das coisas, portanto em Bujaru
tem uma Nossa Senhora do Carmo e eu tenho uma medalha de São Tomé. E toda vez
que eu olhar minha medalha vou recordar seu exemplo (e, por tabela, o de São
José).