quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Anjos não são fofos

Estou em um outro momento da vida: outra cidade, outro emprego, outra rede de amigos. Devo muito o fato de estar aqui pela intervenção angelical de uma pessoa que não conhecia fisicamente, apenas como amiga de Twitter. Esse é o principal anjo, mas, na verdade, foi uma legião que me conduziu até aqui.
Posso dizer que o primeiro dos anjos eu não saiba quem seja: alguém achou por bem indicar meu nome para uma mesa redonda de um encontro de estudantes. Cheguei cedo para o evento, e nesse lugar, um rapaz falava enfáticamente sobre a situação do quadro de professores da UFRR. Comecei a prestar atenção à conversa de uma forma tão deselegante que fui convidada a participar da roda. Chegado o momento da mesa, dividi-a com uma amiga de longa data, que comentou o fato de já conhecer a situação docente e ter notícias de que abriria em breve o concurso. Dessa mesma amiga, recebo um e-mail, reencaminhando o link do edital escrito se joga.
Até agora, vocês percebem, os anjos não são o doce de candura que se costuma acreditar!
Me inscrevo e entro em contato com aquela amiga citada, pois afinal não conhecia mais ninguém que pudesse indicar um hotel em Boa Vista para que eu fizesse a prova, e ela disse, enfaticamente que eu iria para a casa dela. Eis quando surge o serafim da história! Ela, além de me levar para a própria casa, se preocupa, leva para passear, busca no trabalho... Mas como ela própria se define (meio bruxa e meio fada) é uma pessoa apaixonada, como fogo típico da mais alta ordem de seres angelicais, dura, decidida, guerreira, que vive no extremo.

Como não acreditar que estou no lugar certo?

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Meu São Tomé

Há muito tempo tenho buscado uma imagem de São Tomé, padroeiro dos arquitetos. O estereótipo daquele que precisa ver para crer já me representava em boa medida. A Lei de Murphy domina minha vida e preciso me cercar de certezas e, mesmo assim, muitas vezes, a vida me dá rasteiras. Não foram poucas nem pequenas. Mas Tomé foi o responsável por dois momentos fundamentais na consolidação do cristianismo, que temos referência na Bíblia: quando ele questiona a Jesus o caminho a seguir e a icônica incredulidade, o que sinalizou para a transcendência da fé, para além de fatos e materialidades.
Os atributos de São Tomé são o esquadro e a lança: com o primeiro ele, com sua retidão, construiu novas bases para o cristianismo no oriente, sendo importante na consolidação da fé cristã na Índia; com o segundo ele foi morto. Em torno de 500 anos depois de Cristo, o imperador Constantino se converte ao cristianismo e os cristãos, que viviam de forma clandestina no Império Romano do Ocidente, passam a ter apoio e saem ao sol. Essa é a Igreja que terá Pedro como pedra de sustentação, aquela que necessita de fundamentação estrutural para existir. A de Tomé já havia se consolidado no Império Romano do Oriente e manteve-se viva no Império Bizantino. Enfim, um apóstolo de coragem, que perguntou o que todos queriam falar, que foi na contra-mão, levando a fé até as últimas conseqüências.
Não encontro uma imagem de São Tomé! Aliás, encontrei uma, a representação de um apóstolo, sem nenhum atributo, escrito na peanha “São Thome”. O que é um homem sem sua história, sem trazer a sua bagagem de referências que o fazem diferentes dos demais? Não, aquele não era o meu São Tomé! Aliás, pensava em fazer o meu próprio santinho quando vi uma imagem, uma medalha, cuja vendedora denominava de “São José Trabalhador”. Acho injustas determinadas denominações – essa especialmente – que podem provocar leituras equivocadas. São José, trabalhador sempre, portanto não precisa ter esse aposto. Muito menos a invenção de um arquiteto de Belém que resolveu criar um “São José Liberto”, como se em algum momento ele tivesse sido escravo, preso ou limitado por qualquer motivo. Bem, retornando à medalha, a imagem trazia um esquadro na mão: sim, era o São Tomé! Era o meu São Tomé!

Em Bujaru, durante uma pesquisa, uma imagem foi identificada em seus atributos como Santa Bárbara, embora toda a comunidade rezasse ao pé de seu nicho como Nossa Senhora do Carmo. Quem está errando? Na dúvida, minha opção é sempre aquilo que transcende a matéria das coisas, portanto em Bujaru tem uma Nossa Senhora do Carmo e eu tenho uma medalha de São Tomé. E toda vez que eu olhar minha medalha vou recordar seu exemplo (e, por tabela, o de São José).

Em todos os cantos

Não pego esse ônibus, depois que o prefeito resolveu fazer uma obra atabalhoada que me fez perder um concurso importante. Não há esforço ou planejamento que resista ao mal. Acho que essa lição trago a muito tempo: lutar sempre contra esse inimigo ruim que sempre quer me derrubar (às vezes fisicamente). Contudo aprendi a reconhecer, alguns dirão que é uma certa intuição, quando e quem me prejudica, e estou cada vez mais aprendendo a isolar essas negatividades. Mas aquele senhor me chamou atenção: aspecto oriental, vários sinais irregulares no rosto. Não havia motivo, mas larguei toda minha angústia de dias tensos e brigas em família e observei ele, que atravessava a roleta. Com tantos lugares no ônibus, ele senta ao meu lado.
- A senhora é católica?
- Sou.
Ele então puxa um panfleto de uma evento, encontro de mulheres dos padres barnabitas e convida a participar. Foi o mote para uma longa conversa sobre nossas vivências católicas.
Eu encontrei minha definição há pouco tempo: sou Católica Preguiçosa Apostólica Romana. Não acho que estar dentro de uma igreja, necessariamente todo domingo ou fazendo o que seja para a paróquia me engrandeça o espírito; conheço várias pessoas que não saem delas e não têm postura cristã, católica ou mesmo ética. Prefiro trazer a minha igreja em mim, todos os cantos, em vez de ter um comportamento quase supersticioso de que me basta ir à missa, confessar e está tudo resolvido! Não entendo assim ser católica, pra mim, a nossa fé a gente carrega no dia a dia, na postura em relação ao próximo, seja qual for o grau de proximidade! Roupa de domingo é uma expressão muito estranha pra mim: eu sou o que sou o tempo todo, não apenas no domingo. Confesso que a minha preguiça a alguns ritos me dá trabalho.
Eu gosto de lutar pelo que acredito, eu gosto de observar o mundo e as pessoas, ver o melhor (ou a potencialidade) de cada um, gosto de ler e estudar, o exemplo de vida dos santos me alimenta a alma.
Tenho vários padroeiros, que foram surgindo para me abençoar na vida. Anas estão sempre surgindo em momentos inesperados - e percebi isso há pouco tempo, outra postagem falo delas - como avós, discretas, a dar o toque preciso na orientação de caminhos a seguir. São Tomé, padroeiro dos arquitetos, é outro exemplo.
E assim foi seguindo em temas a conversa com aquele senhor, ele também dando sua perspectiva de vivência católica, muito semelhante, através de outros exemplos.

Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei entre vós (Mt 18:20)

De repente percebo que algumas pessoas estavam atentas à nossa conversa. "Eu não pego esse ônibus", disse. "Nem eu", respondeu e continuou "mas temos que estar sensíveis ao que nos conduz". E nesse ponto da longa conversa (que eu desconfio que fez com que ele perdesse o ponto em que iria saltar), percebo que toda minha tensão por problemas vários na família tinha sumido. Ele fez menção de saltar, mas não fez, e eu desci. O sino da Sé tocou.

Diário da Porta do Céu

Existem anjos. Tomemos isso como princípio de conversa e quem não concordar com isso, pode procurar outra coisa pra ler. Aqui eu falarei de anjos, mas não a construção renascentista de uma figura ideal e fofinha, mas aqueles anjos que aparecem na nossa vida e, etéreos que são, vão embora.
A tradição diz que não devemos pronunciar o nome dos anjos, por isso omitirei. Alguns anjos que vou descrever aqui também serão ficcionais, pois não tenho a capacidade de descrever com precisão a presença angelical e, assumindo minha limitação da literalidade, farei construções literárias, pois precisamos também de um toque de fantasia.
Mas acreditem: anjos existem, assim como o céu e algo muito melhor que esse mundo ruim em que vivemos! Conheço vários, convivi com alguns, conversei e toquei. Por isso preciso falar deles, pois percebo que eles antecipam e me anunciam sua origem. É como eu pudesse, através deles, seres iluminados, sentir o aroma que vem de sua origem: chegam no portão de suas casas. Por isso buscarei nesse diário (sem compromisso de ser atualizado todo dia) tentar descrever o que vejo através da fresta da Porta do Céu, que eles atravessam para ter comigo.
Pequenos pontos de luz, a iluminar o meu caminho.